O amor começou desse jeito. Um amor que nascera fora dos costumes de um amor. Aprimorado de etéreas sensações de códigos criados um ao outro; Ela nasceu com o sol, ele com a chuva. O problema não era o avesso, pois ambos gostavam tanto de sol quanto de chuva; o questionamento era o embate entorno do signo em comum. O beijo dentro da lacuna. Quem seria o primeiro para o olhar, do tato ao cheiro; do sossegar entre desejos escorridos, em pleno golpe de altura ao mergulhar do copo de volúpia? Lábios carnudos em seu encontro, a cada olhar fotográfico, retido no momento, perturbava assim a insensatez dele; na memória em que se encaminhava o pecar tão doce e singelo, do corpo dela: pequeno, compacto, leitoso e febril. Ela não costumava muito utilizar a palavra, e em muitas vezes questionava a existência desta; procurando o instinto, sua essência, o primitivo estado de se abstrair, de apenas sentir a verborragia que se exala em se observar às coisas em silêncio; e por um denso momento, a ação justificava o fato dentro dela, assim redundante, ela apenas vivia, deslumbrante seminua de quaisquer artifícios existenciais, numa metafísica astrológica de se embebedar do gozo do livre arbítrio. Esse era o seu veneno, sua pureza era sua luxuria. Ele caminha pelo branco, no dedo indicador que se dilata a sugestão: ou é ou não é. Quando a conheceu, se permitiu não a existir dentro dele; são poucas as tulipas vermelhas que surgem no meio do mar de concreto. Apenas reparou no seu queixo agudo; no seu olho de cor de esmeralda; no seu sorriso de pequena saliente; nos seios de pitomba que cabiam dentro da língua; de suas coxas meio tortas, porém sadias; de sua pele branca e reluzente de algumas alergias; de seus lábios, os quais lhe salpicavam a dor do desejo incubado². Ele negava tudo isso, sabia que ela vivia em um tempo muito avesso ao seu; e ainda havia o detalhe de nunca terem se falado, o ser platônico se conjugava com um ser cartesiano dentro dele, pululava as sensações, e a cada improviso em que o destino colocava os dois juntos, um de frente ao outro; ele virava tartaruga dentro do casco, e ela virava minhoca toda enrolada. Contudo, mesmo que ele a negasse ou que ela traduzisse ele como elipse; os dois não podiam omitir o laço que os uniam. Ele tinha, tem alguns casos; ela idem. A liberdade sempre fora o ideal destes dois; quando ficaram pela primeira vez, em uma suposta aula de estética, sentiram uma palavra, a qual não existia nome em palavra. Não adiantaria buscar no dicionário, numa tentativa de fuçar frustradamente um significado; de uma certa forma, eles dois, tanto ele quanto ela, sabiam disso, e preferiram guardar para consigo próprio, o significante de cada um para essa palavra inexistente. Na verdade nunca fizeram sexo; apenas existiu o ouriço deste, o brusco tocar de cheiros, gemidos, línguas e mordidas. Assim de um nada, os dois sumiam um da vida do outro; a intimidade de uma certa forma inconsciente levava a um podar do sujeito; ele não queria que ela se apaixonasse por ele, e muito menos ela; apesar de estarem apaixonados, um pelo outro. Às vezes me vêm perguntas à cabeça minhas: Porque ele não corre e vai ao encontro dela, e a seqüestra com um beijo de amor? ; Porque ela, às vezes some, fazendo com que ele se esqueça até do seu nome? São pratos vazios a que chego, nestes personagens casuais de vida interina cotidiana: Ela gosta de poesia, para ele, ela é a poesia; ele costuma fazer sambas, ela costuma gostar de sambar; ela já foi ao estrangeiro, ele rodou no máximo até o Rio de Janeiro; ele fala, ela muda, ou ela fala, ele mudo. A única coisa que eu sei deles, hoje em dia, é que tanto ele quanto ela, são do mesmo signo.
Sunday, May 14, 2006
CAPRICORNIANOS
O amor começou desse jeito. Um amor que nascera fora dos costumes de um amor. Aprimorado de etéreas sensações de códigos criados um ao outro; Ela nasceu com o sol, ele com a chuva. O problema não era o avesso, pois ambos gostavam tanto de sol quanto de chuva; o questionamento era o embate entorno do signo em comum. O beijo dentro da lacuna. Quem seria o primeiro para o olhar, do tato ao cheiro; do sossegar entre desejos escorridos, em pleno golpe de altura ao mergulhar do copo de volúpia? Lábios carnudos em seu encontro, a cada olhar fotográfico, retido no momento, perturbava assim a insensatez dele; na memória em que se encaminhava o pecar tão doce e singelo, do corpo dela: pequeno, compacto, leitoso e febril. Ela não costumava muito utilizar a palavra, e em muitas vezes questionava a existência desta; procurando o instinto, sua essência, o primitivo estado de se abstrair, de apenas sentir a verborragia que se exala em se observar às coisas em silêncio; e por um denso momento, a ação justificava o fato dentro dela, assim redundante, ela apenas vivia, deslumbrante seminua de quaisquer artifícios existenciais, numa metafísica astrológica de se embebedar do gozo do livre arbítrio. Esse era o seu veneno, sua pureza era sua luxuria. Ele caminha pelo branco, no dedo indicador que se dilata a sugestão: ou é ou não é. Quando a conheceu, se permitiu não a existir dentro dele; são poucas as tulipas vermelhas que surgem no meio do mar de concreto. Apenas reparou no seu queixo agudo; no seu olho de cor de esmeralda; no seu sorriso de pequena saliente; nos seios de pitomba que cabiam dentro da língua; de suas coxas meio tortas, porém sadias; de sua pele branca e reluzente de algumas alergias; de seus lábios, os quais lhe salpicavam a dor do desejo incubado². Ele negava tudo isso, sabia que ela vivia em um tempo muito avesso ao seu; e ainda havia o detalhe de nunca terem se falado, o ser platônico se conjugava com um ser cartesiano dentro dele, pululava as sensações, e a cada improviso em que o destino colocava os dois juntos, um de frente ao outro; ele virava tartaruga dentro do casco, e ela virava minhoca toda enrolada. Contudo, mesmo que ele a negasse ou que ela traduzisse ele como elipse; os dois não podiam omitir o laço que os uniam. Ele tinha, tem alguns casos; ela idem. A liberdade sempre fora o ideal destes dois; quando ficaram pela primeira vez, em uma suposta aula de estética, sentiram uma palavra, a qual não existia nome em palavra. Não adiantaria buscar no dicionário, numa tentativa de fuçar frustradamente um significado; de uma certa forma, eles dois, tanto ele quanto ela, sabiam disso, e preferiram guardar para consigo próprio, o significante de cada um para essa palavra inexistente. Na verdade nunca fizeram sexo; apenas existiu o ouriço deste, o brusco tocar de cheiros, gemidos, línguas e mordidas. Assim de um nada, os dois sumiam um da vida do outro; a intimidade de uma certa forma inconsciente levava a um podar do sujeito; ele não queria que ela se apaixonasse por ele, e muito menos ela; apesar de estarem apaixonados, um pelo outro. Às vezes me vêm perguntas à cabeça minhas: Porque ele não corre e vai ao encontro dela, e a seqüestra com um beijo de amor? ; Porque ela, às vezes some, fazendo com que ele se esqueça até do seu nome? São pratos vazios a que chego, nestes personagens casuais de vida interina cotidiana: Ela gosta de poesia, para ele, ela é a poesia; ele costuma fazer sambas, ela costuma gostar de sambar; ela já foi ao estrangeiro, ele rodou no máximo até o Rio de Janeiro; ele fala, ela muda, ou ela fala, ele mudo. A única coisa que eu sei deles, hoje em dia, é que tanto ele quanto ela, são do mesmo signo.
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1 comment:
é isso aí...
beijo de olhos perdidos xucuru!
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