Mais uma chuva. Cigarros boiando pelo cinzeiro e um zumzum de pingos no telhado. Ai que noite niilista de desabafos e conversas sobre o porvir. Clara saiu devagar com um copo de uísque derramando pela camisola, ela de propósito fez um sinal de susto safado, daqueles que você se sente desenganado e pronto para saber as regras do jogo. Sentou no sofá e de leve pegou uma birra de cigarro, acendeu e deu uma tragada num suspiro em que cruzava as pernas e cantava Like Virgin da Madona. A calcinha era vermelha. Estávamos esperando o Guinga chegar (seu namorado) para a gente sair pra balada. A balada se resumia a um barzinho de boemia gelada de 2 reais, onde o frio fazia desgarrar conversas ácidas e rodadas de maconha em seqüência, poderia dizer que era o meu diário criativo ocioso. Clara estava já alta e radiante, era provocante como ela exibia suas pernas ala Sheron Stone e saboreava o pecado de ser linda e eu de ser bobo e fingir não comê-la com os olhos.Clara- Porque vc está tão calado, alguma gata comeu sua língua?
Gonzo- Perdoe meu silêncio é que sua calcinha é linda...
Clara- eu sei, o Guinga adora ... ela é cheia de trancinhas ta vendo? E meio transparente (abre as pernas despudorada), e é lisinha e bem torneada faz com que ressalte meu bumbum . Você acha meu bumbum bonito?
Gonzo- Acho ... Ele impecável, tem alguma receita ?
Clara- é simples...uma boa pica arrebita.
Tenho que dizer que Clara sabia provocar, ela sabia manobrar o meu pensamento sendo sinuosa, ela dominava o jogo. Arriscava-se, brincava de pega-pega se equilibrando no seu charme, e eu não poderia perdê-la de vista, escarafunchava todo o seu melindre e buscava a boa hora de encontrar o seu ponto fraco.
Trimm.trimmm.trimmmmm.
Toca o telefone, Clara delicada se levanta e começa a andar até o quarto, rebolando o trôpego rebolar. Puxa o fio do telefone até a porta, senta no chão num ângulo que queria me espreitar com olhar, não deixando a tensão se apaziguar.
Clara- Alô...
Guinga- oi meu pitel ... é o seu garanhão falando...
Clara- aiiiiiiiii.. Que demora xambinho, sabe ki horas são? Já estou no uísque do vovô há bastante tempo... Cadê você, arrumou a coisa?
Guinga- Arrumei.. mas pintou sujeira no bairro, os zomi estavam de emboscada com o mano Elifas... Quando eu acabei de comprar a massa, foi deus que me alumiou.. Os zomi desceram o cacete lá no pantanal, foi emboscada dá feia... teve tiroteio do bom ... Caiu dois do elifas e um poliça.. to entocado aqui no Inácio na casa do Nariz Fabiano, vou dar um tempo pra abaixar a poeira e daki a pouco chego aí...blza?
Clara- Caramba... mas a coisa ta aí, né? São 100 pilas dá galera..
Guinga- Calma, neném ! E eu tenho pinta de vacilão, tá tudo em cima e é da pura venenosa. Manga-rosa pra rodar a noite toda.
Clara- Então vem logo, o Gonzo ta aqui e ele tá me comendo com os olhos!
Guinga- ah é? Então dá pra ele...
Clara- Como é que é?
Tu-tu-tu. Tu-tu-tu. Tu-tu-tu.
A ligação caiu. Clara fechou a expressão, caminhou de volta para o sofá e acendeu mais um cigarro, e tirou entre os seios uma piteira e de dentro do maço de cigarros uma baga de maconha.
Clara- Você quer ?
Gonzo- Quero sim... O que foi que rolou no telefone? (peguei a piteira com a maconha e acendi.)
Clara- rolou uma cócó lá no pantanal, os zomi baixou geral mas a manga-rosa ta salva!
Gonzo- amém! Foi 100 pilas que comprou não foi?
Clara- Foi! Mas está tudo bem agora .
Gonzo- E o Guinga ta vindo?
Clara- ta , ele vai dar um tempo na casa do Nariz Fabiano... não se preocupe temos tempo ainda pra brincar.
Gonzo- Brincar de que?
Clara- Calma! dá uns tapas aí na coisa, chegue a luz... e você verá...
Segui as ordens. Brequei a coisa, dei 5 tapas seguidos e já estava com os zoinhos coloridos. Clara fumava seu cigarro, estava mais delicada, me observando parecendo arriscar um bote. Seus cabelos ruivos sufocavam pelo destempero do odor delicioso. O sofá parecia seu esplendor, um gatinho tomando conta do seu ninho.
Miauuuuuu.
Desfiz-me em grau saltei sem defesa, Clara estava encharcada de suor, não sei dá onde saiu o calor, mas estávamos em um abafo continuo. O silêncio em êxtase e a putaria pronta para o desabafo intimo.
Gonzo- Que silêncio! Então qual é a brincadeira?
Clara- Eu quero trepar !
Gonzo- ÉÉÉÉÉ... Como é que é?
Clara- quero tre-par... sabe? Eu quando estou bebendo adoro fuder...
Gonzo- Eu quando fumo um também.
Clara- Então vamos...
Gonzo- Agora??? E o Guinga se ele chegar, e encontrar a gente?
Clara- não se preocupe, eu só sigo ordens... agora vamos começar com o seguinte...
Você já assistiu Bent?
Gonzo- o filme que Mick Jagger se fantasia de travesti? E é passado na segunda guerra mundial, e aborda Alemanha nazista?
Clara- Isso mesmo meu iluminado...é sim! Tem dois personagens um judeu e outro judeu-viado. O filme é fantástico, mas o que mais me marcou foi quando eles já estavam loucos de carregar pedregulhos de um lado para o outro, e começaram a buscar uma afeição um no outro no momento mais limite de suas vidas, e eles não poderiam nunca se tocar então eles desenvolvem uma paixão porreta, daquelas de só se viver uma vez na vida. Tem uma cena em especial em que está chovendo, nevando eu não sei... Mas eles estavam lá parados um do lado do outro no toque de recolhimento. Eles só conseguem se ver com o olhar periférico e começam a fazer amor sem se tocar, as duas bichas gozam literalmente pelas palavras. Aí........
Aí... q’uEu não sabia aonde ela queria chegar, ela deu uma pausa e começou a colocar O Bent na jogada? Aquilo mais me parecia um inserção tarantinesca que no máximo estavamos andando para uma noite kitch, sem pedantismos eu querendo almodovariar aquela xota, e ela salientalizar meu intelecto com distorções de um velho almanaque.
Clara- então comece!
Gonzo- só tem um problema! Eu to sem camisinha!
Clara- kkkkk e precisa ter camisinha pra colocar nas palavras?
Gonzo- não entendi ...
Clara- eu quero que a gente faça que nem as duas bichas judias, eu quero que você me faça gozar pelas palavras, entende? Vamos me penetre sem me tocar!
Como? Essa menina só pode ter enlouquecido, ela não pode estar fazendo isso comigo. Ela linda sentada, de camisola de pernas abertas me pedindo pra comê-la com as palavras!? E quais são as palavras que comem uma mulher, quais são os pergaminhos que fecundam nesse universo? Puta que pariu espero não gozar precocemente pelas palavras.
Clara- vamos estou esperando!
Gonzo- feche os olhos...
Clara- já fechei, e agora?
Gonzo- relaxe , estou topando na sua nuca, subindo e descendo meus dedos pelos seus cabelos. Deslizo com a outra mão seus seios que cabem em minha mão, sinto eles enrijecerem e fico bolinando no biquinho dos peitos completamente entregues.
Clara- AHHHH... Eu estou quase dormindo... Quero poesia...
Dormindo? Eu estava com seus peitinhos em minhas mãos. Bolinando no seu biquinho! Ela quer poesia, poesia ligeira... Poesia-minuto, um hai-kai erótico, Drummond para se masturbar, um Leminski seria o tom das preliminares e uma Lispector seria epifanico na hora do gozo... Caralho, mas eu só sei falar palavrão?! Tudo me soava num teatro do absurdo. Deus Ionesco me dê inspiração, para sair frases-beckett !
Minhas referências se passam, destoam-se. Gutierrez é um horrível genérico de Bukowski mal resolvido. Mas o primeiro passo está no malandro romântico safado, aquele que em vez de flores oferece uma pica perfumada. É o maquiar para se entregar. É um dizer de Vinicius de Morais com aquela finura de um Chico Buarque. Estou quase encontrando a pornô-idéia, o gozo do Gonzo.
Gonzo- Então lá vai ...
Foder
Comer
Fome
De saliva
Comer
Boceta
Foder
Sem perder a rima.
A porra está na boca
Porra segura o meu caralho
Que passa de mão em mão
Feito um ás de link para um atalho
o Gozo
e
eu
gozo
sua xota um rio que banhava o ventre
líquido
suor
carne
grito um urro
e venha tocar na estrela
do céu da minha boca
a língua
invadindo tua floresta encantada
atrás do camafeu clitóris
siririca meu bem
e mostra o teu cool pra mim
amor que fika
é trepar em palavras.
.... foi bom pra você?
Clara suspirou, apagou a birra e com um leve gesto tirou a calcinha e jogou na minha cara. Quando a retirei, bem slowmotion, senti o cheirinho imenso agudo de jasmim.
E ao ver de olho nu sua flor, me embasbaquei em uma pergunta: Como pode existir tanta poesia em uma xana ruiva? Poderia fazer um ensaio em titulado, “A flor ruiva”, ou um artigo a “Imensidão Jasmim”. Poderia ser até o nome do poema que narrei para ela. Era tudo escuridão em luzes acesas de silêncio, e um risco de ar era perigo, pois sabíamos que a lacuna parida estava em desespero contido. Qualquer palavra era um tiro, não sabíamos como descarregar o revolver da fala sabíamos apenas que estávamos com um grande arsenal de munição e o olhar era um grito. Tente degustar a cena, Clara estava com a linda, perfeita, milimétrica , a epifanica xota aberta para mim, eu, Gonzo querendo gozo. Ficamos cerca de 1 hora de sensação em 3 minutos, quando ela falou.
Clara- Foi ótimo...estou toda molhadinha.
Levantei-me com a minha bandeira já hasteada e pronta pra cantar o hino com direito a bis. Clara estava com aqueles zoinho do gato de botas, ela sabia que eu tinha vencido e que ela gostou de perder. Eu ia à sua direção, bem calmo, cheirando o jasmim da calcinha vermelha linda. Quando o balão de assopro do nosso mundo papocouououououououououououououoooo.
Pof pof pof pof
Era o Guinga. Ele estava batendo na porta. Em um pensamento só me veio o maldito Bertolucci, com a última cena do seu filme Assédio. Caralho! O Guinga batendo na porta na hora que eu estava tirando a virgindade das palavras de sua namorada. O meu ouviram do Ipiranga naufragou e emudeceu pela águas do esgoto da 13 de julho. Ficamos mais 5 séculos em um segundo nos olhando eu e Clara. Foi aí que ela se levantou e atendeu a porta, e guardei a calcinha no bolso.
Guinga- Que demora dá porra, peguei chuva e o escambau ... e aí neném tava com saudades?
Clara- muita meu xambinho, que bom que você chegou agora...Agora está tudo bem.
Guinga- ô minha fofa se prepara que hoje a gente vai dormir com a lua e mijar cerveja no sol. E aí Gonzo minha mulher deu trabalho? Vocês foderam direitinho?
Odeio silêncio. Mas ficamos ali eu e Clara se olhando e Guinga mesmo displicente sentiu o estranhamento e a demora da resposta. Tive que ser sincero.
Gonzo- fodemos!
Guinga- foderam??? Foi com camisinha?
Gonzo- eu não tinha e também não precisava.
Guinga- e Clara gozou?
Gonzo- pergunte a ela!
Guinga- e ai meu anjo quantas vezes?
Clara- uma só , que me doeu a alma.
Guinga- você comeu o cú dela foi meu chapa?
Gonzo- sim comi sim o cool dela...
Guinga- ela sabe chupar pra porra...
Gonzo- não só com a boca, ela chupa pelos ouvidos também...
Enquanto falávamos Guinga percebeu que eu não tirava os olhos de Clara e nem ela dos meus. Ele se sentia um hiato dando prosseguimento à hipérbole da conversa na metonímia dos fatos. No momento em que se rendeu e se irritou. A piada tinha sido consumada. Ele era um corno entre as palavras.
Guinga- que caralho é esse ? você foderam mesmo foi...
Gonzo e Clara- Fodemos!
Guinga- como é que é?
Gonzo –fodemos ...
Clara – pelas palavras.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Guinga deu uma gaitada histriônica, a qual soluçou em nossos ouvidos. E a piada era séria, ele era um corno risonho. Ele ria dizendo que estávamos muito loucos, de maconha e uísque. E por um segundo rimos também, porém eu e Clara estávamos lúcidos por dentro e sabíamos que a psicosfera estava ao nosso lado. O que começamos foi só as preliminares.
A noite da balada foi de risadas tristes como sempre para todos. Aquela velha caixa de cerveja pra secar e vários charos para fumar. Só foi intensa pra mim e pra Clara que ficamos fazendo sexo com o olhar até o dia raiar.
Quando voltei pra casa, tinha o maior prêmio da minha vida. Tinha o jasmim da xota da Clara como poesia.
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